Tempo de dificuldades, de escassez, de recolhimento? Quando o estresse é muito prolongado ou muito intenso a depressão pode bater em nossa porta.
E como você está? Está preparado? Quais recursos você tem para reagir?
Esse estresse prolongado gera perda do gosto pela vida, ou seja, da capacidade de saborear a vida (prova disso, é a perda de apetite tão comum – nem aquela comidinha que amamos e que nos dava tanto prazer, já não nos anima mais). Esse estresse gera também a irritabilidade e a ansiedade que acabam refletindo em várias regiões do corpo. Sim, o estresse causa queda de cabelo (o mecanismo como isso ocorre é assunto que daria um novo texto) e é por isso que gostaria de conversar com vocês sobre esse tema hoje.
Foi detectado no cérebro dos pacientes com depressão níveis diminuídos de serotonina e/ou aumentados da enzima monoamino-oxidase em algumas regiões cerebrais como cortex pré-frontal, hipocampo e amígadala cerebral (Sistema Límbico). A serotonina é a molecula da felicidade, da sensação de bem estar. Muitos medicamentos atuam nesta via impedindo sua recaptação na fenda fazendo com que a serotonina aja por mais tempo.
Sou a favor da administração da medicação por um determinado tempo com o acompanhamento de um especialista, em casos de emergência, com a função de tirar a pessoa da crise. Afinal, quando estamos muito fragilizados precisamos de auxílio, de um empurrãozinho que nos ajude a levantar. Porém, chega uma hora que precisamos tomar as rédeas de nossa própria vida, pegar o volante e dirigir nossa vida para onde queremos ir. A medicação auxilia, mas ela por si só não é a salvação de todos os males.
Busquemos, então, a causa da alteração bioquímica. A resposta está no nosso “eu” mais íntimo. Como fazer isso? Vamos à pergunta:
Qual a informação e qual o comando você está dando para seu cérebro hoje?
Com o avanço da neurociência, podemos compreender esse transtorno sob um outro ângulo. Sei que muitos não vão acreditar e aceitar. A tendência é dizer: não sou eu a responsável, não quero ter depressão. É culpa da genética, do cérebro, da molécula, da situação, do outro, a culpa é das estrelas, não minha.
Pode ser e não tenho a pretensão de mudar sua crença, pois acredito que a única pessoa que pode mudar suas crenças é você mesma.
Cada um tem seu ritmo…
Nosso cérebro, assim como o universo, está em construção. Já é comprovado pela ciência que não somos vítimas dos nossos genes e de nossa fisiologia (como acreditávamos). Somos nós que informamos aos nossos genes-órgãos a maneira como eles devem trabalhar. Criamos a sequência de informações e disparamos sinais (moléculas, neuropeptídeos, hormônios) para o corpo/mente trabalharem o tempo todo, da forma como bem queremos. E é essa informação que vai gerar uma emoção específica (positiva ou negativa), enviamos a informação, nosso cérebro grava bem esse comando e envia exatamente a mesma mensagem ao corpo. Ambos trabalham em harmonia. E mais… o poder do hábito se estende também para as reações biológicas. Ou seja, você vai se condicionar a agir sempre assim, exceto se estiver disposto ao trabalho de fazer algo diferente.
Cada célula humana contém 1 milhão de receptores para receber estas substâncias químicas. Assim, quando estamos tristes, nosso fígado está triste, nossa pele está triste¨ Susan Andrews
E você pode me perguntar: mas como faço para agir diferente?
Precisamos fortalecer nosso lobo frontal, o grande CEO do cérebro. É ele o responsável pelo pensamento consciente e tomada de decisões. Ou seja, devemos pensar, analisar e observar o que estamos sentindo e pensar qual é a mensagem enviada pelo nosso corpo. Sim, o corpo fala e grita conosco o tempo todo, mas nós, temos a mania de ignorá-lo ou subestimá-lo.
Tendemos a querer usá-lo apenas da forma como bem entendemos, não é mesmo?! Tipo… se vira, você precisa aguentar e dar conta. Eu preciso e pronto!
E aí, qual a informação e qual o comando você está dando para seu cérebro hoje?
A sugestão é: criemos!!! Criemos novos pensamentos, sentimentos, emoções, formas de comunicação, ou seja, uma nova programação entre nosso cérebro e nosso corpo, onde ambos possam falar a mesma língua.
Difícil?! Sim! “Ninguém disse que seria fácil, falou? Ninguém nunca disse que seria tão difícil.” Veio em minha lembrança agora essa música da banda Cold Play (The Scientist) – por sinal foi a primeira música que aprendi a tocar no piano.
O contexto sociocultural inibe que manifestemos nossas emoções, pois as interpretam como fraquezas. O sistema nervoso parassimpático (embora ativado) é bloqueado e essa falha na comunicação provoca um desequilíbrio neurovegetativo interno desencadeando doenças. A impossibilidade de manifestar as emoções verdadeiras resulta numa auto-agressão que reflete no corpo (doenças) para nos lembrar que precisamos resolver essa questão, pois o corpo não está entendendo como proceder mais.
Admiro muito pessoas que conseguem fazer isso sozinhas, mas se você não entra na exceção, procure ajuda. Não precisamos saber de tudo e nem fazer tudo sozinhos. O importante é querer ser ajudado. Temos muitos recursos, técnicas e profissionais competentes de diversas áreas dispostos a ajudá-lo. Procure ajuda!
Sim, você tem outra opção, a de continuar com aquela pílula milagrosa para o resto de sua vida (falarei dos efeitos colaterais a longo prazo desses medicamentos em outro texto). A vida é feita de escolhas e a decisão está em suas mãos!!!
Referências Bibliográficas:
– O livro do Cérebro, Rita Carter.
– Da emoção à Lesão- Um guia de Medicina Psicossomática, Geraldo José, Ida Vani e Eurico Pereira.